segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vai julgar?




Se a tv estiver fora do ar
Ela saberá que é madrugada
E que já é hora de sair.

Veste a roupa e vai lutar
Sonha que pode ser amada
Tudo se acaba, já é hora de se despir.

Deixa ele se saciar
Se sente fracassada
Recebe o dinheiro. Já é hora de ir.

Se põe a chorar
Sentada na calçada
Pensa na filha que colocou na cama e fez dormir.

Recobra o fôlego e sem pensar
Volta pra vida estraçalhada
Sem muita pena de si.

Espera o próximo chegar
Recomeça toda a canalhada
E deixa seu pensamento se esvair.

Espera ele pagar
Lambuzada e humilhada
Desiste da vida e decide fugir.

Volta pra casa e se dana a chorar
Acarinha a face da filha deitada
E tem vontade de sumir.

Mas a dignidade portas não abrirá
Cansada
Ela se deixa dormir.

O pão de todo dia ela precisa comprar
A filha não tem culpa de nada
Ela não pode se dar ao luxo de desistir.

E quem é que vai julgar?
Não seria de bom tom ser condenada
Porque precisa a filha suprir.


Marília Araujo.


4 comentários:

Marília Reul disse...

Eis um dos poucos exemplos em que a mãe vende corpo para suprir as necessidades de um filho amado que em casa fica, sem saber nem conhecer o mundo que lhe cerca, e que a mãe depende deste mundo para sobreviver.
E ao invés de jogar tal filho nas ruas, em sinais, ou entregue às drogas, se faz o possível e o impossível para dar conta de sua responsabilidade.

Belíssimo texto xará.
parabés!
beijão

Mari Araujo. disse...

É xará.. melhor ela q a filha. É uma prova de amor! Esse texto serve pra dizer que nem sempre quem segue esse caminho teve a oportunidade de seguir outro.

Bjs xará!

BarelyEly disse...

e há quem finja não ver isso.

Belíssimo do ponto de vista estético litrário.
Horrível do ponto de vista social.

és talentosa Mari... Muito.

Mari Araujo. disse...

Obrigada ELy.. e tb concordo q é horrível do ponto de vista social. E digo mais, é muito comum nos dias de hj situações assim.. Apenas a sociedade se acostumou a ver e a "desviar" desse tipo de problema. infelizmente.